segunda-feira, 27 de abril de 2009

Comunidades cobram espaço para prática de esportes.

No bairro de Vila Canária, que fica na região de Pau da Lima, em Salvador, a única área de lazer pública é o campinho de futebol. Sem alambrados, arquibancada ou vestiário e localizado em um pequeno morro, tem apenas duas traves. Este cenário de abandono das praças esportivas é comum em pelo menos quatro bairros da periferia da cidade.


Além do bairro de Vila Canária, uma equipe de reportagem de A TARDE percorreu Castelo Branco, Uruguai, São Cristóvão e Mussurunga – um total de duas quadras e cinco campos –, depois que moradores deste último denunciaram que um esgoto doméstico estava invadindo o campo dos setores A e B, levando à suspensão de jogos nos fins de semana. “Aqui virou um mangue”, reclamou o morador Geosivaldo Clemente. Nestes locais, quando existem, os alambrados estão furados, as traves enferrujadas, e matagal e lixo se espalham pelo campo de terra.


O abandono dos espaços esportivos de Salvador está acontecendo em bairros onde o aumento da criminalidade preocupa. Em 2009, apenas Castelo Branco não registrou mortes violentas de jovens com idade abaixo de 30 anos, seja por homicídio ou por auto de resistência – em confronto com a polícia.


Morreram vítimas da criminalidade cinco jovens em São Cristóvão, cinco no Uruguai, um em Vila Canária e um em Mussurunga. Dentre eles, três tinham menos de 18 anos. A existência de espaços para práticas esportivas e outras atividades de lazer é considerada por educadores e pesquisadores como um fator fundamental para diminuir as chances de crianças e adolescentes entrarem no crime.


“É importante haver áreas que permitam atividades de lazer, sobretudo esportes. Percebe-se que mesmo para crianças e jovens em situação social de risco, as atividades trazem benefícios”, afirma a educadora Iara Dulce Ataíde, professora titular da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), autora do livro Decifra-me ou Devoro-te, fruto do seu trabalho com meninos de rua.


Projetos – Nos quatro bairros, as associações desportivas continuam tentando buscar junto à prefeitura apoio para fazer melhorias nos campos: instalação de arquibancadas, vestiários, alambrados, refletores, traves novas, além de construção de centros poliesportivos.


Em Mussurunga, São Cristóvão e Castelo Branco há pelo menos quatro anos professores de educação física deram entrada em projetos que buscam melhorias para as áreas esportivas na prefeitura. As promessas não se cumpriram após a campanha eleitoral, segundo eles. Fora da agenda política, os projetos caíram no esquecimento e nunca saíram do papel.


Cobrança – Em 19 de março de 2005, o então recém-eleito prefeito de Salvador, João Henrique, esteve no Estádio Metropolitano de Mussurunga, nome dado ao campo onde funcionam três escolinhas de futebol, inclusive uma turma feminina. Segundo Eunápio de Souza, presidente da Liga Desportiva de Mussurunga, que administra o campo, o prefeito prometeu recuperar o espaço. Desde então, Eunápio cobra sucessivamente a reforma ao governo municipal, como ele comprova com documentos.


Em 2006, ele enviou solicitação de reforma para o então secretário municipal de Esportes e Lazer, Paulo Meira, lembrando que o prefeito tinha assumido um compromisso. Em agosto de 2007, reforçou o pedido e em junho de 2008 tornou a reivindicar melhorias ao ex-secretário de Esportes, Entretenimento e Lazer, Acelino Popó Freitas. “Prometem mas nunca vem”, reclama.
Os líderes comunitários buscam recursos junto à comunidade e a parceiros da iniciativa privada. Já a Prefeitura de Salvador conta com escassos recursos para o esporte e não está articulada para criar projetos de restauração das praças esportivas da capital. A Secretaria de Esportes, Lazer e Entretenimento foi incorporada à Secretaria de Educação, como Coordenadoria de Esporte e Lazer (Coel).


A Coel encontra-se sem orçamento definido e sem saber o número de campos existentes na cidade. “A verba não foi fechada, depende da Câmara de Vereadores”, disse o coordenador da Coel, Ricardo Moura. A Câmara de Vereadores ainda não votou a questão. Moura disse que vai levantar o número de praças esportivas e começar a receber propostas. “Algumas devem virar centros esportivos. A maioria precisa de reparos”, disse.



Fonte: A Tarde

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